Assédio no trabalho: uma realidade na rotina de muitas mulheres

Na jornada de trabalho das mulheres, tão importante quanto desempenhar as funções é saber se impor e denunciar condutas sexuais abusivas.

Em todas as áreas de trabalho não há quem não conheça uma história de assédio, seja vivenciada por si mesma ou por alguma amiga. Histórias que vão desde cantadas, convites para sair, piadas misóginas, presentes inoportunos e até contatos físicos forçados, como beijos, abraços ou atitudes mais íntimas. Muitas das vezes, o assédio vem acompanhado de ameaças de demissão ou promessas de promoção.

No ambiente de trabalho, assédio sexual é o comportamento de característica sexual imposto, no qual não há o consentimento por parte da mulher, causando constrangimentos, situações vexatórias, humilhantes e de subordinação. É importante destacar que o assédio sexual é por vezes confundido com assédio moral, mas se diferencia pelo tipo de relação, que em geral são de força e/ou poder, não necessariamente de hierarquia.

Os assédios sexuais são classificados em dois tipos: por chantagem e por intimidação. No primeiro, há uma coação, uma conduta sexual em troca de benefícios, ascensão ou afim de evitar prejuízos na carreira; enquanto no segundo, pode até não haver ameaça, mas há atitudes impertinentes como brincadeiras de mau gosto, cantadas e “elogios” que podem prejudicar o desempenho profissional e gerar intimidação ou humilhação.

Desde 2001, o assédio sexual é crime no Brasil, com pena de um a dois anos de prisão para quem praticá-lo, e está tipificado no artigo 216-A do Código Penal: “constranger alguém com o intuito de obter vantagem ou favorecimento sexual, prevalecendo-se o agente da sua condição se superior hierárquico ou ascendência inerentes ao exercício, emprego, cargo ou função”.

número de denúncias em órgãos oficiais é crescente, mas não reflete a realidade. Para se ter uma ideia, segundo o Ministério Público do Trabalho, em 2012, foram denunciados 165 casos de assédios sexuais em ambientes de trabalho, e em 2017, esse número saltou para 340 ocorrências, mas a quantidade é sem dúvida muito maior pois a maioria das mulheres não denuncia sequer dentro da empresa quanto mais ao MPT.

Muitos assediadores aproveitam-se de uma cultura machista, que não repreende a conduta, culpabiliza a vítima e inibe a denúncia, para continuarem a agir com a certeza de que suas atitudes “não são nada”, apenas “elogios”, ou no máximo “ações mal interpretadas”.

A ginecologista Carolina Ambrogini fala que isso ocorre “porque a gente ainda respira um ambiente muito patriarcal, onde o homem tem domínio sobre a mulher, em que o homem é base da sociedade. Então ele se acha poderoso ao subjugar a mulher.”

Diante das situações constrangedoras, a maioria das vítimas não denuncia por ter vergonha, medo de sofrer represálias, ser julgadas, desacreditadas, ter algum prejuízo na carreira ou perder o emprego, por exemplo.

Ainda são minoria, mas já estão ganhando voz, as mulheres que não se calamdenunciam os assediadores, expõem as próprias histórias e cobram da sociedade uma mudança de postura.

A mudança sociocultural não é imediata, mas acontece à medida que se discute sobre sexismo, preconceito e intolerância, que valores como igualdade de gêneros são promovidos, que as mulheres conseguem dizer não!, que se criam mecanismos para protegê-las de retaliações e punir os assediadores, que o mercado se posiciona como agente transformador, sobretudo quando existe um cenário desfavorável para o crescimento e desenvolvimento profissional das mulheres.

É animador ver que empresas de grande porte, influenciadoras, estão preocupadas em não tolerar casos de assédio sexual. Porém estas ações de repreensão não devem ser pontuais, alcançando apenas casos com grande visibilidade. Espera-se uma nova cultura organizacional, um ambiente de trabalho no qual as mulheres sintam-se seguras, sem ameaças e que sejam tratadas com respeito e profissionalismo.

O processo ainda é lento, mas é contínuo e progressivo.

Fonte: www.eladecide.org